Hackeando as Profecias

Expondo o Símbolo, o Significado e a Identidade dos Dez Chifres do Animal Monstruoso de Daniel

Volume I

Segunda Edição

A. P. Rodrigues

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© 2025 por A. P. Rodrigues

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Segunda Edição: Julho 2025

Volume I

Ao Altíssimo Onisciente.
Amor a Quem nos amou primeiro.

Prefácio à Segunda Edição

Eu já mencionei que este livro começou a ser escrito em 2022. Mudanças significativas profundas estavam começando a acontecer em minha vida, naquela época, enquanto eu escrevia os primeiros rascunhos do livro e estas mudanças acharam um jeito de moldar não só o conteúdo mas também a forma em que o leitor recebeu os escritos preparados para o primeiro volume.

O primeiro volume teve duas versões. Algumas cópias digitais da primeira versão foram distribuídas, mas ela não mais representa o meu pensamento sobre o assunto. Embora não esteja errada em cada detalhe, no todo, o seu sentido se desvia da verdade, por mostrar fatos ou eventos secundários como se fossem os eventos e fatos primários que cumprem primalmente a profecia.

A segunda versão daqueles primeiros escritos, muito mais reduzida e enxuta de equívocos, tornou-se a primeira edição deste volume, que agora recebe esta segunda edição que traz algum polimento expositivo, alguma expansão reflexiva e alguns outros expurgos de incorreções que se fazem o autor corar, também mostram o seu compromisso genuíno para com o assunto e para com os seus leitores.

Uma Edição Inglesa

A presente edição que - pensa este autor - de modo algum é a última, vem ao mundo acompanhada de uma irmã gêmea. Esta edição tem uma versão feita para leitores de língua inglesa, sob o título "Cracking the Prophetic Code" e subtítulo "Unveiling the Symbolism, Meaning, and Identity of the Ten Horns on Daniel’s Fourth Beast".

Sendo a última edição ou não, outros livros ainda terão de ser escritos (quisera eu que em várias línguas), sobre as consequências de longuíssimo alcance que decorrem da descoberta ou redescoberta de que os dez primeiros imperadores romanos são os dez chifres de Daniel.

Prefácio da Primeira Edição

Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que não sou padre, não sou pastor, nem teólogo, nem historiador, nem tenho qualquer formação acadêmica afim com o tema deste livro. Sou apenas um cidadão interessado, como se diz, no assunto e no seu desenvolvimento para a maior glória do Altíssimo.

Este livro começou a ser escrito em 2022, mas o seu conteúdo já ocupava a minha cabeça desde o início da década de 1990 quando eu era apenas um piá tomando as primeiras lições bíblicas e ouvindo com muito entusiasmo que Deus havia feito muitas previsões, desde os primeiros tempos bíblicos, sobre futuros acontecimentos então ainda distantes, mas que haviam, de fato, acontecido e que poderiam ser verificados pelas pessoas do nosso tempo.

Muita água rolou antes que eu pensasse em escrever um livro sobre este assunto e muitas mais escoaram antes que eu atingisse a clareza e a certeza sobre um domínio minúsculo de tudo aquilo sobre o que eu vinha lendo, estudando, meditando e contemplando da grande, confusa e incerta, mas ainda assim estimulante e prometedora área das profecias bíblicas.

No início, os primeiros contatos com as várias profecias traziam, naturalmente, satisfação e enlevo por causa do usufruto de um conhecimento novo, sagrado que era uma prova a mais sobre a existência, a presciência e sobre o poder de Deus de criar os fatos exatamente como os profetas haviam predito.

Após algum tempo estudando profecia bíblica, atingi um certo grau de clareza a respeito de vários detalhes, implicações, nuances, etc. Também, tomei conhecimento do vasto número de estudos, análises, apologias, críticas e de como seria impossível cobrir tudo o mais que já foi pensado, dito e escrito ou descoberto referentemente às profecias bíblicas e nas mais variadas áreas de saber e num tempo tão longo quanto o marcado pela escrita do primeiro livro bíblico, e que são importantes para a compreensão do assunto.

É um fato muito agradável o de que comecei a escrever depois do advento das modernas inteligências artificiais de fala humana. Estas tecnologias podem se tornar verdadeiros assistentes pessoais nos mais diversos assuntos. Aquilo que, muito antigamente, poderia estar acessível apenas a pessoas muito ricas, capazes de pagar por assistentes especialistas e auxiliares, habilitados a dar aconselhamento qualificado em suas áreas e a realizar tarefas burocráticas, hoje em dia, está disponível para qualquer pessoa que se disponha a acessar alguma destas maravilhas da imitação do raciocínio e da fala humanos.

Deste modo, muito da pesquisa bibliográfica, das referências a eventos passados, do levantamento, esclarecimento ou descrição de fatos históricos remotos fica ao alcance de um prompt com a pergunta certa. Estas facilidades alavancaram a fase de pesquisa do livro que, em verdade, desenvolveu-se par-e-par com a sua escrita.

Mesmo assim, devido a restrições de tempo e de recursos, o aprontamento final desta primeira edição teve de ser acelerado e encurtado. Por esta razão, alguns pontos podem estar carentes de indicação bibliográfica ou de outras referências, embora, por outro lado, em muitos outros pontos, tenham sido dadas, por exemplo, indicações de fontes primárias com endereço, para acesso online, informado em notas de rodapé para consulta facilitada, em Português, Espanhol ou Inglês. Esperamos que as futuras edições resolvam ou, onde necessário, corrijam as possíveis carências ou as inadequações presentes. Material de apoio a este livro, em vídeo, está sendo preparado e estará gradativamente disponível no meu canal de YouTube (@aprodriguesOficial). Neste canal, discutiremos não só a profecia de Daniel 7, mas muitas outras.

Além e acima destes meros reforços tecnológicos, sem jamais ter tido qualquer dom espiritual fora do normal, posso dizer que em alguns momentos de dúvida meditativa, senti como se a resposta me surgisse, sem nem aquele mais sutil esforço de intuir, recordar ou raciocinar. São Paulo dizia que a profecia edifica a Igreja. Posso dizer que enleva o espírito de quem as estude, pois a presciência do futuro é conteúdo da Mente Divina. Traz gozo espiritual e graça que fortalece a inteligência humana. Sem estes esteios graciosos, verdadeiros bens do Espírito, este livro não teria sido concluído.

Para finalizar, eu gostaria de dizer que este livro foi escrito de forma propositiva. Nele, não comparo, exponho ou combato visões divergentes a respeito do seu tema, se bem que na Conclusão Final deste livro, eu dedique algumas linhas a expor o erro grosseiro e exagerado cometido por uma importante crítica à profecia de Daniel. Neste livro exibo ao leitor a minha visão pessoal sobre o assunto e tento secundá-la, da melhor forma possível, apresentando argumentos e fatos. Não sou o primeiro a falar sobre estas coisas e nem pretendo estar dando a última palavra sobre o assunto. Assim, este é um trabalho especulativo. Este trabalho pode ser qualificado como o resultado de um esforço autodidata ou, sub-repticiamente, desqualificado como o resultado de um esforço meramente autodidata ou diletante sem ressonâncias com o "mainstream" acadêmico ou denominacional. Há muitas propostas interpretativas, em luta, neste campo de batalha e é uma pena que haja eruditos pontifícios que não demonstrem mais o mais mínimo interesse de inquirir, pormenorizada e cabalmente, sobre as que cheguem até eles, mesmo quando solicitados por auxílio e esclarecimento, dispensando-se, de longe, de assumirem a sua altaneira obrigação espiritual de falarem em nome e com a autoridade da Mãe e Mestra e, ainda assim, fazendo poses acadêmicas de uma superioridade intelectual que, no entanto, só existe em sua presunção.

Só nos resta buscarmos a Verdade como que tateando no escuro, um pouco aqui, um pouco ali, subindo degraus na direção da maior claridade até que seja dia perfeito. Tenho certeza que o leitor sentirá, em muitos momentos, o coração a arder, como o dos discípulos na estrada de Emaús. A verdade sentida na alma não exige sustentação argumentativa erudita ou de qualquer outro tipo, mas esta última pode ser dada como a bandeja das maçãs de ouro ou como o seu polimento. E, por desnecessário que seja, este autor foi capaz de apresentar uma formidável salva de prata, em forma de prova matemática à premissa deste livro. A leitura ou o conteúdo desta prova não são de modo algum necessários ao entendimento cabal do assunto deste livro.

A prova acabou ficando muito longa e, por esta razão, recebeu o seu próprio espaço em um livro separado. Deste modo, os vários detalhes propriamente matemáticos puderam ser bastante desenvolvidos. É uma leitura interessante que leva a consciência para um cruzamento insólito, mas cheio de verdade bíblica e de beleza matemática. O leitor poderá encontrá-lo sob o título "A Prova de que os 10 Chifres da Profecia de Daniel São os Primeiros 10 Imperadores Romanos" no meu website pessoal.

O pequeno argumento que será apresentado na Seção A Premissa do Livro, a sua Origem e Validade da Introdução é, sempre foi e sempre será a explicação simples, acessível e convincente da identidade entre os 10 chifres e os 10 primeiros imperadores. Uma prova matemática é apenas o segundo pino do relógio apontando para cima na direção vertical perfeita. Tal feito é também uma prova do compromisso deste autor com o assunto, o qual sem ser teólogo ou historiador utilizou e continuará a utilizar todos os recursos ao seu alcance no desenvolvimento do assunto, no aprimoramento de sua exposição escrita e na sua divulgação.

Introdução

Entre a subida de Nabucodonosor ao poder até Constantino, o Grande, tornar-se cristão, passou-se quase 10 séculos lotados de acontecimentos anônimos, a maioria ocorridos em lugares do globo totalmente alheios à História Sagrada que se desenrolava no povo, nas instituições e na vida das pessoas da pequena, mas não desprezível, Israel.

O agitado movimento profético daquela nação deve ter ludibriado a todas as expectativas de seus inimigos e invasores. É provável que ninguém naquela época, nem mesmo os próprios israelitas ou judeus tenham chegado a imaginar que quase três mil anos depois de seu cativeiro em Babilônia, as profecias daquele tempo ainda seriam objeto de apreciação e estudo sério.

É claro que muito do que foi profetizado àquela época já se passou. A importância para nós, hoje em dia, de conhecermos os símbolos, os seus significados e referentes é grandiosa e pode ajudar a salvaguardar a confiança em Deus ou recuperá-la. A simbologia, como se sabe, é simples, mas está envolta, por um lado, em controvérsias, críticas e contestações e, por outro, é objeto de apologias e tentativas de interpretação que se arrastam por milênios e finalmente produzem em nossas consciências um resíduo de confusão, suspeita ou desinteresse que contendem com a fé desnutrida dos nossos tempos e frequentemente a vencem.

A Premissa do Livro, a sua Origem e Validade

O leitor verá, já nas primeiras páginas deste livro, que algo do mistério e da obscuridade que envolve a profecia dos dez chifres de Daniel simplesmente desaparecerá. Verá, também, nos próximos volumes da Série Hackeando as Profecias que as pessoas de carne e osso referenciadas por estes dez chifres são as mesmas a que se referem os 10 chifres do dragão do Apocalipse 12 e os da primeira besta do Apocalipse 13. Direto ao ponto, os dez primeiros imperadores romanos, começando em Augusto até o imperador Tito, são os dez chifres, incluindo aí o chifre pequeno. Esta é a premissa deste livro. E, o livro é a longa prova de que esta premissa é verdadeira. Assim, este livro é a explicação desta afirmação e se, ao ler a esta premissa, você já entendeu o seu significado, não é preciso continuar lendo, você entendeu o livro inteiro.

Este livro é, de algum modo, a reunião de argumentos, indícios, artefatos, fatos, memórias e registros históricos que demonstram que os 10 primeiros imperadores romanos realizam a profecia dos dez chifres encontrada no capítulo 7 de Daniel. Esta ligação, sem ser misteriosa ou difícil, não reluz, no entanto, à claridade que uma leitura ligeira ou desatenta do texto bíblico poderia deixar passar.

Mas, como chegar à premissa inicial? Como atinar com a sua verdade para, então, passar a tentar demonstrar esta verdade? Respondo: com alguma intuição, por certo. Mas, veja, se você aceita que o quarto animal de Daniel 7 simboliza o Império Romano e confia na afirmação da própria profecia de que os chifres são reis[1], então, basta começar a indagar: que reis serão estes?

Mas, por que aceitar que o quarto animal é o Império Romano? Respondo, mais uma vez: há uma dica sobre o tempo deste quarto animal, novamente, na própria profecia. Esta dica está dada na aparição do Ancião de Dias do qual se aproxima um Filho de Homem. Diferente do que muitos podem pensar, esta cena não representa o segundo advento de Cristo à Terra. O segundo advento será, de algum modo, um afastamento físico entre este Filho de Homem e o trono celeste, onde se assenta o Ancião de Dias, a fim de aproximar-se, também fisicamente, do nosso planeta. Mas, sabemos, da História Sagrada de Nosso Senhor, que após a sua ressurreição, Ele subiu ao Céu, aproximou-se do trono celeste e nele assentou-se.[2]

Estes acontecimentos são fatos da biografia de Jesus de Nazaré cuja vida terrestre transcorreu durante os anos em que os dois primeiros imperadores romanos, Augusto e Tibério, também viviam, veja adiante as duas primeiras linhas da Tabela Os 10 primeiros imperadores romanos são os 10 chifres para mais detalhes. Os imperadores Augusto e Tibério são, de fato, citados nos evangelhos[3] em virtude da influência de suas ações imperiais sobre a vida de Jesus. O quarto imperador, Cláudio, também é citado nos Atos dos Apóstolos.[4] Assim, a premissa inicial vem de uma intuição baseada em fatos históricos arquiconhecidos e da confiança na revelação profética de que o Filho de Homem, Jesus de Nazaré, após a sua morte, aproximou-se do trono da Majestade Celeste. Nos Apêndices, o leitor encontrará a Seção Filho do Homem em que mostramos, principalmente pelas próprias afirmações de Nosso Senhor, dadas nos evangelhos, que o Filho de Homem da profecia de Daniel é Ele próprio em seu Primeiro Advento, aquele em que Ele nasce, morre e ressuscita para, então, aproximar-se do Ancião de Dias.

As Consequências

Esta identificação inicial dos chifres com 10 pessoas reais acaba por nos levar ao esclarecimento de cada detalhe das profecias de Daniel 7 e do Apocalipse 12, 13 e 17. Mostrarei como as menções destes textos estabelecem ligações ponto-a-ponto com fatos históricos conhecidos e cronologicamente ordenados, os quais são os nexos de onde emerge a convicção da verdade da premissa inicial, a saber, que os dez chifres são os 10 primeiros imperadores romanos que governaram o Império Romano entre os anos 27a.C. até 81d.C. O importante, aqui, não são estas datas inicial e final, mas os eventos sagrados que se desenrolaram no período compreendido entre elas ou entre elas começaram. Sobre estes eventos, falaremos muito mais nos capítulos seguintes.

Forma de Expor o Conteúdo

Os livros da Série Hackeando as Profecias não são e não pretendem ser livros áridos de teorias ou de argumentações formalísticas. Bem pelo contrário, os fatos e significados foram como que jogados em suas páginas. Os fatos mencionados são, na sua maioria, enciclopédicos, arquiconhecidos, e dispensam maiores explicações ou apresentações. Deste modo, o nosso trabalho se restringiu a mostrar a equivalência ou similaridade da forma contida nos fatos, por um lado, com a forma exposta no símbolo profético, por outro. Estes livros, longe de quererem usar ou exibir alguma esperteza ou erudição, desejam, antes, ensejar que a Sabedoria Onisciente mostre à consciência do leitor que é Ela Quem está por trás de tantas previsões tão acertadas sobre períodos tão longos da História e tão distantes do tempo em que foram feitas, por dois homens tão distanciados no tempo. O simples encontro entre fatos e suas previsões simbólicas, objetivo da Série Hackeando as Profecias, deverá despertar na mente do leitor a admiração e o assombro que são, tão frequentemente, o início da atração pela Verdade.

Símbolo, Significado e Referente

A Série Hackeando as Profecias aborda símbolos que foram dados por profetas bíblicos há, pelo menos, dois milênios. As representações, imagens ou impressões que estes símbolos evocam em nossas mentes não vêm sozinhos e não seriam suficientes para os entendermos. É preciso que expliquemos o seu significado, ou seja, a intenção subjetiva contida nele. Além do significado, também é preciso indicar o referente, ou seja, o objeto, a coisa, o evento, ou qualquer elemento do mundo real (objetivo ou subjetivo) a que o símbolo e o significado se referem[5], daí o uso da palavra referente.

Por exemplo, a primeira profecia bíblica foi dada por Deus, em pessoa, àquele primeiro casal no paraíso, e é um símbolo de esperança na vitória contra o mal e o pecado e cujo referente só viria a se concretizar dali a muitos milênios no primeiro advento de Nosso Senhor. Quando lemos:[6]

15Porei inimizade
entre você e a mulher,
entre a sua descendência
e o descendente dela;
este ferirá a sua cabeça,
e você lhe ferirá o calcanhar.

sabemos que o significado é a vinda de um Messias, que seria o descendente de Eva e que, ao fim, restaurará a Natureza ao seu estado original e, hoje, oferece, de graça, a mesma restauração a qualquer um que a aceitar.

Jesus de Nazaré, de fato, viveu na época em que os romanos formaram o seu império. Os romanos eram um povo pagão e seus imperadores se acreditavam divindades e impunham o culto de si mesmos aos seus súditos. A sua rebaixada condição espiritual foi, como veremos no decorrer do livro, três vezes retratada na bíblia de forma grotesca e aversiva: um animal monstruoso, um dragão e uma quimera. Jesus de Nazaré, foi condenado em tribunais romanos e sentenciado à pena romana de ser crucificado. Ele foi condenado à morte pelo crime de ter declarado ser o Filho de Deus e Rei dos Judeus. Enquanto ainda vivo ele afirmou que fundaria uma Igreja e que nem o inferno a destruiria. Esta Igreja foi de fato fundada e difundida para todos os cantos do Império por seus primeiros seguidores. Após um período inicial de infernais perseguições, esta Igreja veio, de fato, a se tornar a religião oficial do império, venceu o seu paganismo, erradicou a crença na divindade do imperador e o culto a ele e, sob sua influência, aquele primitivo sistema judicial que condenou e matou o Filho de Deus foi a tal ponto melhorado e aperfeiçoado que, há séculos, tem servido de base e modelo aos sistemas legais de todas as nações ocidentais. Este é o referente daquela primeira profecia. Este referente é, de fato, o início de um acontecimento tão longo, ainda intérmino, e tão completamente presente na realidade, que deixa de ser apenas um evento para tornar-se a História mesma.

Deste modo, o leitor verá que estarei, a todo o tempo, indicando ou explicando qual é o significado e quem ou o que vem a ser o referente de cada profecia comentada neste livro. Não adiantaria falar de profecias sem falar do seu cumprimento, o referente. Tampouco adiantaria indicar o símbolo e o referente sem elucidar o seu significado que, amiúde, está dado no próprio texto profético.

O Símbolo Profético e a Mente Divina

Há um detalhe que, em si, não é detalhe de forma alguma e cuja explicação cabal renderia um outro livro ou livros. O sentido de um símbolo criado é dado pelo seu autor. Um pintor que pinte um quadro ou uma criança que faça um desenho, por exemplo, dá um sentido à sua obra criada. Este sentido pode ser declarado ou não, mas há um sentido, um significado. Este sentido originário não é alterado pelo sentido diverso e até oposto que possam dar quem posteriormente aprecie ou critique a obra, ainda que seja o próprio autor, uma vez que nem este pode voltar ao passado para apagar da realidade aquele primeiro sentido. O sentido originário está ligado à concepção e feitura da obra. Se aceitamos que os símbolos bíblicos, especialmente os proféticos, são dados por Deus mesmo, então, o significado destes símbolos aponta a intenção divina originária. Se o referente é um fato ou sequência de fatos históricos, então estes símbolos são a revelação da intenção divina anterior, acima e através da História. Veremos no caso da profecia de Daniel 7 e as que dela derivam que a intenção divina foi cabalmente realizada. São Paulo diz que a profecia edifica a Igreja e posso dizer, por experiência pessoal, que, de fato, ao ser estudada e verificada, como faremos, ela fortalece a confiança em Deus pela participação, ainda que parcial ou imperfeita, em Sua Presciência.

Santidade

A estrutura da realidade esconde fatos intangíveis. O amor pela esposa, pelos pais ou pelos filhos pode ser mencionado e discutido, mas não pode ser provado, embora possa ser demonstrado. Por exemplo, um homem pode afirmar amar uma mulher e dar todos os sinais exteriores para sustentar esta afirmação, mas ainda assim, no fundo, estar apenas interessado nos bens dela e até, secretamente, desprezá-la de todo o coração.

No mundo físico isto também acontece. O objeto matemático que é um dos conceitos mais fundamentais de toda a Física Quântica é a Função de Onda. Ainda assim, um físico quântico jurará de pé junto que este objeto não tem significado físico e que este significado só começa a aparecer a partir do quadrado do módulo desta função. Deste modo, para efeitos práticos, a função de onda é intangível, por definição, e, ainda assim, sem ela, as altas considerações da ciência mais avançada de nosso tempo seriam impossíveis.

Na ordem do sagrado, há realidades assim também. Ao longo dos séculos, a teologia universal reconheceu a existência de pessoas santas, cuja santidade, no entanto, só pode ser atestada após as suas mortes, por um motivo muito simples: todos nós temos a liberdade e a faculdade de mudar. Talvez, uma das mudanças de alma mais famosas do mundo seja a do ladrão na cruz. Uma maravilhosa mudança para o Bem no último minuto da vida. Por outro lado, por mais improvável que possa parecer, uma pessoa conhecida por ter vivido uma vida irrepreensível pode também mudar de ideia antes ou pouco antes de morrer e cometer atos contrários à santidade. Estes atos podem ser cometidos em recônditos ocultos, inacessíveis a qualquer outro ser humano. A santidade, de fato, tem a sua gênese no Espírito, encampa a ordem psíquica de quem se abra para ela, demonstra-se em atos e fatos exteriores, mas somente é completamente testemunhada, sondada e provada pelo indivíduo que a busca e pelo próprio Espírito. Ninguém mais consegue entrar no centro mais íntimo do outro para lograr a certeza absoluta do seu conteúdo. Deste modo, entende-se porquê a Igreja apenas declara que um indivíduo é santo e mesmo assim após um extenso exame de sua vida, exame este que pode durar séculos. Não é porque ela quer, é porque a estrutura da realidade é soberana.

Precisamos tocar neste assunto aqui, ainda que de passagem e superficialmente, pois a profecia de Daniel 7, menciona os santos sob opressão e também os menciona na feliz e desejosa possessão eterna do reino. Logo veremos que entender a condição de existência dos santos mencionados sobre o pano de fundo do evento em que o Filho de Homem se aproxima do Ancião de Dias é uma das chaves cruciais que nos abrirá o entendimento dos esclarecimentos e da expansão que São João fará deste mesmo assunto no Apocalipse.

1. Quatro Animais Simbólicos e Dez Pessoas Reais

Quem Foram Historicamente Os Quatro Animais

Dez chifres aparecem na cabeça do quarto animal do capítulo 7 do livro de Daniel. O quarto animal era grande e terrível e possuía 10 chifres[7]. Este quarto animal não tinha a aparência de qualquer animal conhecido a Daniel. Mas, os três primeiros animais desta profecia eram um leão, um urso e um leopardo.[8] Não só na aparência os 3 primeiros animais lembravam espécies conhecidas, mas o seu significado, na profecia, é, para pessoas do nosso tempo, tão fácil de conhecer quanto o é abrir um bom livro de História Antiga do Oriente Próximo. Veja a tabela Alguns detalhes e a indicação de fontes primárias, que está logo abaixo.

A esta altura já não há segredo ou mistério quanto a quem são os quatro animais do capítulo 7 de Daniel. Cada um deles se refere a um dos impérios criados por dinastias dos povos babilônio, medo-persa, grego (estendendo-se ao período helênico-helenístico) e romano. O leitor pode se perguntar: mas, por que, entre tantos reinos e impérios antigos vieram estes quatro a ser objeto de uma profecia bíblica? A resposta é simples: estes impérios estenderam os seus domínios sobre a Terra Santa e influíram no destino daquela pequena e inadvertida mas, não desprezível nação, no meio da qual veio a nascer Nosso Senhor Jesus Cristo.

Inadvertida sim, já que apenas gentios praticantes de magia souberam informar aos mandatários romanos da Palestina o tempo em que um Menino Deus ali nasceria. É vergonhoso ao sábio perder consciência de si mesmo. E, este foi o destino da nação que nasceu para trazer o Filho de Deus ao mundo.

Não houve outro império, além destes quatro, que tenha invadido, controlado, dirigido e influenciado, de um modo ou de outro, o destino político da Terra Santa e seus vastos arredores no período compreendido entre a invasão babilônia, em 586 a.C., e a queda do Império Romano no ano 476 d.C.

Abaixo, está uma tabela com informações sobre o início e término de cada um dos impérios mencionados.

Tabela 1. Os 4 impérios que dominaram Israel entre os anos 586 a.C e 81 d.C.
Império Início Fim Animal

Império Babilônio

626 a.C. (Subida de Nabopolassar ao trono)

539 a.C. (Conquista de Babilônia por Ciro, o Grande)

Leão com asas de águia. Suas asas foram arrancadas e ele ficou de pé como um ser humano e ganhou um coração humano.

Império Medo-Persa

539 a.C. (Conquista de Babilônia por Ciro, o Grande)

330 a.C. (Conquista da Pérsia por Alexandre, o Grande)

Urso erguido de um lado e com três costelas entre os dentes. Devia devorar muita carne.

Império Grego

330 a.C. (Conquista da Pérsia por Alexandre, o Grande)

Os reinos helenísticos continuaram a existir por muitos anos, até que Roma gradualmente absorveu a maior parte de suas terras no século II a.C.

Leopardo com 4 asas e 4 cabeças. Recebeu poder.

Império Romano

27 a.C. (quando Augusto se tornou o primeiro imperador romano.)

81 d.C. (ano da morte do 10º imperador, Tito.)

Animal terrível, espantoso, extremamente forte, com grandes dentes de ferro e com 10 chifres. Comia, triturava e pisoteava o que restava.

cilindro de ciro 2
Figura 1: Ciro, o Grande, deixou inscrições conhecidas como o Cilindro de Ciro em que descreve sua conquista de Babilônia.[9] Uma tradução para o Português das inscrições do cilindro pode ser lida no site DHnet.[10]

Tabela 2. Alguns detalhes e a indicação de fontes primárias.
Impérios Detalhes Fontes Primárias

Império Babilônio

O Império Babilônio, sob o rei Nabucodonosor II, conquistou Jerusalém e destruiu o Primeiro Templo em 586 a.C. Isso resultou no exílio do povo judeu na Babilônia (atual Iraque).

Cilindro de Ciro[9], Livro de Esdras

Império Medo-Persa

O Império Medo-Persa, depois de conquistar a Babilônia, permitiu que os judeus retornassem à sua terra natal e reconstruíssem o Templo. Esse período é marcado pelo retorno e reconstrução do Segundo Templo em Jerusalém.

Cilindro de Ciro[9]

Império Grego

O Império Grego, liderado por Alexandre, o Grande, conquistou a região, e após sua morte, os territórios do império foram divididos entre os 4 sucessores, dois dos quais foram os Ptolomeus (Egito) e os Selêucidas Síria. Isso levou a conflitos e tensões na Judeia, incluindo a revolta dos Macabeus. Após a morte de Alexandre em 323 a.C., a série de guerras que se seguiram, resultaram na fragmentação do império em reinos helenísticos.

"As Campanhas de Alexandre"[11] de Arriano, "Vidas de Alexandre e César"[12] de Plutarco.

Império Romano

A Judeia acabou sob o domínio do Império Romano após a queda dos Selêucidas. Eventualmente, o conflito entre os judeus e os romanos levou à destruição do Segundo Templo em 70 d.C. Tito, 10º imperador romano, governou de 79 d.C. até sua morte em 81 d.C. O Império Romano continuou a existir muito tempo após o reinado de Tito, com vários outros imperadores que o sucederam. Tito, quando ainda era general, liderou as operações que resultaram na destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C.

"A Guerra dos Judeus", livros I ao VII, de Flávio Josefo.[13]

Quem Foram os Dez Chifres

Os romanos já estavam expandindo os seus territórios há muito tempo quando Nosso Senhor veio ao mundo, mas a sucessão de governantes que vieram a ser conhecidos como imperadores dos domínios romanos, só teve início menos de 30 anos antes do nascimento de Nosso Senhor e a Palestina só veio a ser anexada definitivamente a estes domínios em 37 a.C., poucos anos antes da era dos imperadores. Quando o primeiro imperador romano morreu, em 14 d.C., Jesus de Nazaré ainda era uma criança. Assim, o Império Romano e a Era Cristã tiveram seus inícios quase ao mesmo tempo na História.

Tabela 3. Os 10 primeiros imperadores romanos são os 10 chifres
Nome[14] Início/Fim Chifre Imagem

Augusto, César Augusto

16 de janeiro de 27 a.C. – 19 de agosto de 14 d.C. ou 7 de janeiro de 43 a.C. – 19 de agosto de 14 d.C.

1º Chifre

augusto

Tibério, Tibério César Augusto

17 de setembro de 14 – 16 de março de 37

2º Chifre

tiberio

Calígula, Caio César Augusto Germânico

18 de março de 37 – 24 de janeiro de 41

3º Chifre

caligula

Cláudio, Tibério Cláudio César Augusto Germânico

24 de janeiro de 41 – 13 de outubro de 54

4º Chifre

claudio

Nero, Nero Cláudio César Augusto Germânico

13 de outubro de 54 – 9 de junho de 68

5º Chifre

nero

Galba, Sérvio Galba César Augusto

8 de junho de 68 – 15 de janeiro de 69

6º Chifre, 1º arrancado

galba

Otão, Marco Otão César Augusto

15 de janeiro – 16 de abril de 69

7º Chifre, 2º arrancado

otao

Vitélio, Aulo Vitélio Germânico Augusto

19 de abril – 20 de dezembro de 69

8º Chifre, 3º arrancado

vitelio

Vespasiano, César Vespasiano Augusto

1º de julho de 69 – 23 de junho de 79

9º Chifre

vespasiano

Tito, Tito César Vespasiano Augusto

24 de junho de 79 – 13 de setembro de 81

Chifre Pequeno no período em que foi comandante militar e depois general romano até 23.07.79.
10º Chifre a partir da morte do pai em 24.07.79.

tito

512px Roman Empire (117 AD)
Figura 2: O Império Romano no início do século II d.C. O mapa ilustra a vasta extensão (em verde) do "quarto animal", destacando a província da Judeia, epicentro da revolta, e a capital, Roma, destino final dos tesouros do Templo e sede do poder dos "dez chifres".[15]

Os 3 Chifres que Foram Arrancados

O cristianismo viria a subverter a religião oficial do Império Romano, mas antes disto, os romanos destruiriam a cidade e o Templo que foi o berço do cristianismo. Tito foi o 10º imperador romano, mas antes de se tornar imperador, ele foi o general que conduziu a invasão da Judeia, o cerco de Jerusalém e o arrasamento total do seu templo, no ano 70 d.C. Neste ano, seu pai, Vespasiano, já era o 9º imperador de Roma. Alguns meses antes, de 68 a 69 d.C., três imperadores - Galba, Otão e Vitélio - haviam subido ao poder só para, logo em seguida, serem destronados, em uma frenética sucessão de golpes e revoltas empreendidos pelos partidos interessados em assumir o comando do império mais poderoso do mundo àquela época. Este episódio da história antiga ficou conhecido como o Ano dos Quatro Imperadores.[16] Tito ainda não era imperador naquela época e sua posição como general romano o colocava abaixo do imperador. Se os imperadores fossem comparados a chifres, um general seria um chifre pequeno. E, a profecia é que perante os olhos deste chifre pequeno, outros 3 chifres foram arrancados.

O Chifre Pequeno é o Décimo Chifre

O leitor mais atento poderia se perguntar: mas, o chifre pequeno não é um 11º chifre? Eu responderia, sim, textualmente o chifre pequeno está distinguido dos 10 anteriormente mencionados, mas Tito era de fato um general - posição inferior à do imperador - no período de 68 a 69. Além disto, os três imperadores que foram desarraigados de suas posições, o foram perante os olhos de Tito, que era contemporâneo deles e a quem interessava observar, de perto, tais acontecimentos. Para completar, Tito veio de fato a tornar-se o 10º imperador romano, em 79 d.C. Assim, Tito realizou o símbolo do chifre pequeno, enquanto era um general romano, e também realizou o símbolo do décimo chifre ao se tornar o décimo imperador (veja a décima linha da Tabela Os 10 primeiros imperadores romanos são os 10 chifres para mais detalhes).

Vespasiano, Tito e São João

O 4º animal da profecia de Daniel 7 era de tal natureza que o profeta não soube classificá-lo sob uma espécie conhecida, mas o denominou de grande e terrível. São João, também vê, muito tempo depois, um animal que ele, sem ter podido usar uma classificação padronizada, denominou de Dragão. Ele percebeu que este dragão tinha o mesmo número de cabeças e chifres que tinham os 4 animais de Daniel 7 reunidos. Mas, a visão de São João vai além. Ele observou 7 coroas reais nas cabeças deste dragão, ou seja, o dragão de São João é visto quando 7 dos imperadores romanos já podem ser identificados. Isto é significativo, pois São João foi contemporâneo do sétimo imperador e de Tito! Isto quer dizer que São João não só estava trazendo ao mundo a sua profecia mas, ao mesmo tempo, ele estava interpretando, para as gerações futuras, o significado e o cumprimento concreto da profecia de Daniel 7.

De fato, na época do sétimo imperador, o império já havia decidido acabar, de uma vez por todas, a revolta judaica que culminou com a destruição do templo. Otão foi o sétimo imperador, no ano 69 d.C., mas ele teve uma passagem de tal modo meteórica pelo domínio do império e, durante este tempo, deve ter estado tão envolvido nos conflitos de sucessão que se iniciaram após a morte do imperador Nero, que não restam registros de sua atuação neste assunto.

Por outro lado, Nero, o quinto imperador romano, foi quem deu a ordem inicial, no ano 66 d.C., para erradicar os revoltosos judaicos. Para quem ele deu esta ordem? Para o, então, general Vespasiano e futuro nono imperador de Roma, o que veio a se concretizar em julho de 69 d.C. Agora, quem era o segundo no comando da campanha contra Jerusalém? Você não vai acreditar: o filho de Vespasiano, Tito, e, também, futuro imperador de Roma, o décimo. Eis aí as sete coroas reais vistas nas cabeças do dragão que tenta assassinar o Messias ao nascer, que o crucifica, que destrói o templo e assassina os santos presos em Jerusalém, mas que é expulso e arrasado quando o Império Sumo-celeste o ataca e o derrota. A descrição mais em detalhe da passagem envolvendo São Miguel Arcanjo será dada no livro 2 da Série Hackeando as Profecias. O ponto principal, neste momento, é que a simbólica dada por São João sobre o dragão é um esclarecimento formidável dos símbolos revelados a Daniel.

É digno de nota que a transição imperial por longo tempo mas, principalmente, desde o início do império, era um processo rodeado de ameaças de usurpação e que Tito, filho de Vespasiano, foi o único filho de imperador que reinou após a morte de seu pai, tendo ele próprio morrido de causas naturais. Isto só foi se repetir novamente com ninguém menos do que Constantino I, em 337.[17]

2. A Arrogância de Tito

A revolta judaica irrompeu com força no ano 66 d.C. Por muito tempo, os revoltosos haviam sido vitoriosos sobre as forças romanas enviadas para contê-los. Os judeus não brigavam apenas por suas vidas e sua liberdade, mas lutavam pelo cumprimento de uma profecia muito antiga, segundo a qual, eles, os judeus, possuiriam o reino.

Aqueles revoltosos religiosos tinham, de fato, não só a esperança de se verem livres do jugo romano, mas principalmente, a esperança profética de se apossarem do império.[18]. É bem provável que os romanos tivessem conhecimento das profecias danielianas. E, por mais que a sua superioridade bélica pudesse lhes dar a certeza de que os bravos mas, ainda assim, subjugados judeus nunca invadiriam a sede do império, é bem provável que um tal vaticínio parecesse arrogante à sua belicosidade irritadiça.

Arrogância, por outro lado, é o que se pode esperar ver no espírito de um general, cujo pai é o próprio imperador, e cuja missão é destruir o Templo do Deus de uma nação vassala inimiga. É claro que cada plano pensado, cada ordem dada aos seus subalternos, cada estratégia ou tática estudada e concretizada na campanha para invadir Jerusalém e que culminou com a destruição completa do Templo de Herodes, repito, é claro que isto era um insulto ao Altíssimo e uma mágoa e uma provação no coração do povo judeu.

Sestertius   Vespasiano   Iudaea Capta RIC 0424
Figura 3: Sestércio romano da série "IVDAEA CAPTA", cunhado sob o Imperador Vespasiano (c. 71 d.C.). A imagem de uma figura feminina (personificação da Judeia) em prantos sob uma palmeira era uma poderosa propaganda da vitória romana, ecoando a opressão aos "santos" descrita na profecia.[19]

Julgamento a Favor dos Santos

De fato, Tito guerreou contra os santos e prevaleceu contra eles! Sitiou, invadiu e arrasou Jerusalém. Incendiou o templo e obrigou aos próprios cativos derrotados a removerem das ruínas das paredes queimadas as pedras que sobraram em pé e colocá-las ao chão.

Os efeitos da sua vitória duraram até o ano 313 d.C., ano em que o sucessor de Tito no comando do império que antes perseguia cristãos, se converte, ele próprio, em cristão. Os efeitos da sentença divina que foi dada ao fim do julgamento, que começou após a destruição do templo, não pararam por aí. Em 380 d.C., o cristianismo torna-se a religião oficial do império e, por fim, em 476 d.C., a antiga sede do próprio império, Roma, fonte e símbolo de tantas tristezas, primeiro para os judeus e depois para os cristãos, cai em mãos bárbaras, como pedra jogada ao mar e que nunca mais é encontrada.

Quando Deus julgou os atos do chifre pequeno - Tito -, entregou o império nas mãos de seu povo, os cristãos - que deste modo herdaram o Bem Espiritual que os judeus deram à luz deste mundo, mas que em seu, então, desastrado desfecho histórico, desprezaram.

É arquiconhecido o fato de que após o próprio imperador, Constantino I, ter-se tornado cristão, a Igreja, na Terra, experimentou, por algum tempo, um período de tal apogeu temporal que não há como negar o sentido pleno da figura de linguagem segundo a qual os santos vivos entrariam na posse do império.

A Tentativa de Alterar os Tempos e a Lei

É claro que uma profecia que se impregne na cultura de um povo e que alimente constantemente perigosas aspirações de posse dos governos todos do mundo pode tornar-se uma fonte de sangrentos conflitos igualmente constantes. Não há razões para duvidar que esta era uma preocupação pesarosa na mente das invasoras autoridades romanas, responsáveis pela segurança e paz pública da região que haviam avassalado e cujo domínio era constantemente ameaçado.

Após reiteradas e fracassadas esperanças de estabelecer a paz, a destruição do templo e da cidade foi tão completa que não é difícil de imaginar que os romanos quisessem alterar de tal forma o estado do povo judeu de modo a extinguir a esperança do cumprimento de qualquer profecia de restabelecimento futuro. É curioso notar que mesmo isto havia sido profetizado, pois o chifre pequeno não só seria arrogante, insultaria a Deus e magoaria os santos como também deveria tentar alterar os tempos e a lei.

Este foi de fato o espírito que levou a um dos sucessores de Tito a fundar uma nova cidade, Aélia Capitolina, sobre o, até então, solo sagrado de Jerusalém. Em 135 d.C., a última revolta judaica foi amargamente sufocada e os judeus foram banidos do território e proibidos de retornar.[20]

Esta característica do império é marcante e já podia ser observada muito tempo antes de Tito. A tentativa de intervir no desígnio conhecido de Deus e, se possível, alterar os tempos e a lei, ou seja, mudar ou suprimir os acontecimentos presentes de modo a determinar eventos futuros diferentes daqueles antevistos pela Lei e os Profetas, já podia ser observada antes do nascimento de Cristo. O império do tempo em que Jesus nasceu viria a ser retratado, muito tempo depois, como um dragão infanticida. E, de fato, foi um alto representante do império na Judeia que mandou matar os recém-nascidos, de dois anos para baixo.[21] a fim de impedir que um Deus Rei viesse ao mundo de acordo com a previsão profética.

3. A Sessão de Julgamento

Até o verso 8, a profecia do capítulo 7 vinha descrevendo simbolicamente eventos que podem ser reconhecidos na história humana. Mas, repentinamente, ela dá um salto para um outro plano e descreve brevemente certos acontecimentos que viriam a ocorrer neste outro plano e que se ligariam de modo especial a eventos da história terrestre.

De um ponto de vista humano atual, poderia parecer supérfluo tentar descrever eventos que, supostamente, se passaram há mais ou menos dois mil anos e que não teriam ocorrido na Terra. Mas, quis a Providência dar conhecimento ao profeta, e a nós, sobre a ocorrência de uma sessão de julgamento presidida pelo Antiquíssimo Ser durante a qual um Filho de Homem foi levado até a Sua Presença. Nós sabemos, por certo, que esta narrativa simbólica refere-se a eventos acontecidos naquele plano depois da ascensão de Nosso Senhor ao Céu, após a Sua Ressurreição.

Sabemos, pois o mesmo evento foi narrado novamente por São João, nos capítulos 4 e 5 do Apocalipse, mais uma vez, esclarecendo o significado da profecia de Daniel 7 e acrescentando outras valiosas informações às já contidas em Daniel. Segundo São João, entre a morte de Cristo e algum momento desconhecido após a sua subida ao céu, não havia ninguém que pudesse tomar posse e conhecer o livro do destino do mundo. João conta que chorava muito nesta visão por causa disto. Mas, de repente, ele vê a figura de um Cordeiro que havia sido degolado e, não obstante, estava mais vivo do que nunca e, como a Pessoa representada por este Cordeiro mesma colocou: vivente para todo o sempre.[22] Este Cordeiro toma o livro que estava na mão direita dAquele que estava assentado no trono Divino e, após isto, recebe adoração universal.

Em ambas as passagens, Deus está assentado em Seu trono e um Filho de Homem aproxima-se Dele. Ambas falam sobre a superioridade deste Filho de Homem. Ambas se referem ao mérito da Sua Altíssima Distinção, o que o faz digno de honra e louvor. Ambas referem, de um modo ou de outro, o domínio universal, eterno e indestrutível do Seu império. Ambas narram este majestoso acontecimento como se passando no Céu.

Reparemos também nas suas temporalidades. Ambas concordam que tal fato aconteceria após a ascensão de Nosso Senhor ao Céu. Em Daniel, a sessão de julgamento acontece depois que o chifre pequeno guerreia e prevalece contra os santos, ou seja, depois da destruição de Jerusalém e do Templo, o que, como se sabe, aconteceu após a ascensão de Jesus ao Céu. Em Apocalipse, claramente, a aparição, no céu, do Cordeiro degolado é a aparição da Oferta pelo pecado, o que só pode ter acontecido após a ascensão que, por sua vez, aconteceu após a morte e ressurreição de Nosso Senhor.

O templo é destruído no ano 70 d.C., portanto, esta sessão que julga esta destruição tem que ter acontecido depois deste momento no tempo. Mas, ela precisa ter acontecido antes de 313 d.C., pois a conversão de Constantino, o Grande, ao cristianismo, significava a conversão do império a Cristo e marca o momento em que os santos começam a possuir o reino. Já vimos que esta foi a sentença a favor dos santos que resultou daquele julgamento. Deste modo, a visão tida por São João, refere-se a este evento que ocorreu entre os anos 70 e 313 d.C. Além disto, a redação e a composição final do Apocalipse tem sido localizada por volta do ano 70 até por volta do ano 95 d.C.[23] Só este fato, já localizaria este julgamento dentro do período que acabamos de mencionar.

4. Os Santos

Os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para sempre! O leitor mais atento poderia se perguntar: como poderia ser para sempre se estamos no ano 2024, as nações do mundo inteiro estão, em boa parte, entregues a repúblicas, nominalmente democráticas, cujos mandatários ocultos ou discretos, gastam fabulosas somas de dinheiro para que seus agentes políticos performem números publicitários, no picadeiro midiático, tentando exibir mera aparência pública de honestidade e decência que, no fundo, todos sentem e sabem ser o mais requintado desempenho cênico no mais grandioso, perigoso e mortal espetáculo circense. Nenhum daqueles mandatários ou seus agentes estão, nem remotamente, interessados em, sequer, parecer santos.

Daniel fala dos santos na profecia do capítulo 7, sem dar dicas de que ele soubesse que as pessoas às quais ele se referia seriam um misto de judeus e gentios, cujo destino era desligar-se completamente da tradição religiosa à qual ele, Daniel, pertencia e pela qual ele estava disposto a contrariar a vontade de reis, ser queimado vivo, ser devorado por leões, e, em verdade, disposto a qualquer outro destino, por pior que fosse, desde que ele não fosse desleal a Deus e à sua religião. A Igreja que Nosso Senhor disse que faria e que vemos, de fato, hoje em dia, dois mil anos depois, por todos os cantos do globo; teve inícios bem difíceis, fatais mesmo, mortais para quem aderisse a ela e a professasse durante os quase 300 anos que foram desde a flagelação e morte de Nosso Senhor pelas mãos das autoridades imperiais em Jerusalém, passando pela destruição de Jerusalém e do santuário, até a conversão do imperador e a cristianização do império.

Não sabemos se o piedoso profeta Daniel sabia disto, ou não, mas São João nos dá uma esclarecedora comparação de magnitudes, quando, no capítulo 7 do Apocalipse, nos revela que o grupo de pessoas, que estão, desde aquela época e para sempre, diante do trono de Deus, e que provieram da Grande Tribulação, cujo término pode ser datado com a conversão do imperador Constantino, em 313 d.C., era composto de 144 mil judeus, 12 mil de cada tribo, o que é um número grande de pessoas, sem dúvida, mas ainda assim incomparável com o número incontável de pessoas provindas das outras nações, tribos, povos e línguas - os gentios que haviam se convertido ao cristianismo e que deram as suas vidas pela verdade que conheceram, a saber, que um Filho de Homem havia ressuscitado e estava em seu trono, à direita de Deus, para junto de Quem aquela multidão incontável preferiu ir a seguir aquele animal monstruoso que São João caracterizou de dragão, o qual não só matara o Filho de Homem, que foi avistar-se com o Ancião de Dias, mas que, agora, também enviava para a eternidade a todos os que, nas palavras de São João, se negavam a seguir a Besta.

A profecia de Daniel previu que estes santos seriam atacados e vencidos por algum tempo e os quase 300 anos devem ter parecido uma eternidade para os cristãos que viveram aqueles tempos sangrentos. São João concorda com Daniel ao apresentar os santos já falecidos, durante aquele tempo, - em virtude de terem anunciado a Palavra de Deus, isto é, por terem dado testemunho - a perguntarem, com veemência, por quanto tempo mais ainda eles haveriam de aguardar antes que os povos fossem julgados pelas suas mortes. Eles deveriam esperar, foi a resposta, pois o tempo daquela Perseguição Terrível ainda não havia se completado e outros cristãos ainda passariam pelo mesmo martírio.

Ao fim daquele período terrível, Daniel nos informa que o animal monstruoso - o Império Romano - seria julgado, destituído de seu domínio e destruído por completo.[24] Sobre isto, São João previu, em seu tempo, eventos bem interessantes, relacionados à perda de domínio daquele animal, e expondo muitos outros detalhes que não haviam sido dados por Daniel, quase 500 anos antes.

Os cristãos foram largamente perseguidos pelo Império, mas, antes disto, o foram pelos mais ricos e poderosos judeus mandatários da Judeia, a elite nata do povo judeu: a casta sacerdotal e os herodianos, a casta política. A história da conversão de São Paulo é, talvez, o emblema mais notável deste período. No sexto selo os grandes e poderosos se atemorizam e afirmam que chegou o grande dia. Este texto pode dar a impressão, a pessoas do nosso tempo, de que se está a falar do dia da segunda vinda de Cristo, quando, em verdade, o acontecimento que lhes infunde o medo é outro, muito anterior ao dia da segunda vinda. Os cristãos vinham sendo perseguidos, presos e mortos pelas autoridades judaicas, arqui-inimigas do proclamado Messias, que eles deveriam estar esperando e ter recebido com honras régias, mas que, ao contrário, haviam crucificado. Quando as legiões romanas invadem a Terra Santa, destroem Jerusalém e transformam o templo em ruínas, em aproximadamente três anos e meio, toda a base física do poder daquela elite é desmantelada. São João se referirá a isto como "o plano oculto de Deus". A elite judaica creu, por algum tempo, ter executado o plano mais audaz de toda a História: usurpar o trono de seu próprio Deus-Rei. Pagaram mais caro do que jamais imaginaram! E ainda pagam! É por esta razão que no sexto selo, os grandes, os ricos, os poderosos, falam que chegou o grande dia dAquele que se assenta no trono e fazem aquela pavorosa pergunta: "quem poderá suster-se?" Deste modo, este selo traz explicações pormenorizadas não apenas sobre o julgamento do animal monstruoso da profecia de Daniel 7, mas sobre um mar de miudezas factuais que tinham a ver com a altíssima traição que as autoridades do povo de Daniel efetuariam contra o Filho de Homem que o profeta tão gratamente antevira em sua profecia. Os próximos volumes desta série têm muito mais a dizer sobre isto.

De fato, Daniel e São João concordam com o destino eterno dos santos, tomando parte no governo eterno de Nosso Senhor, o Filho de Homem, pois Daniel nos diz que os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para sempre depois de serem perseguidos e vencidos; e, São João os vê em pé diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas. Dia e noite eles o servem em seu templo. Estes santos haviam sido o objeto do canto daqueles 28 indivíduos enigmáticos e maravilhosos que, em coro, diziam ao Cordeiro: compraste para Deus pessoas de toda tribo, língua, povo e nação. Tu fizeste deles um reino para ser governado por Deus, sacerdotes para Lhe servirem, e eles reinarão sobre a terra.

Os cristãos que viveram naquelas primeiras décadas, não só podiam ver a animosidade e a violência crescentes direcionadas a si, mas também haviam sido avisados sobre a necessidade de se manterem firmes frente aos ataques que deveriam sofrer, de todos os lados, cada vez mais intensamente. Temos uma amostra deste aviso nas mensagens que São João enviou às sete comunidades messiânicas e que ficaram registradas no livro do Apocalipse. São João menciona ou alude nas cartas a sofrimentos, a perseguições, a insultos, a prisões, à morte, a penosidades, a enganos, a provações, que ocorreriam durante aquele período ao qual o mesmo apóstolo e profeta referiu-se, posteriormente, como a Grande Tribulação. Cada uma das cartas menciona, diretamente, o destino feliz daqueles que vencessem as adversidades daquela perseguição realizada primeiro pelos judeus e depois pelos órgãos oficiais do Império e que terminou, definitivamente, em 313 d.C. No capítulo 7, São João retrata os santos das sete comunidades asiáticas, reunidos aos de todas as outras comunidades cristãs do mundo, à época, que haviam vencido aqueles longos anos de tribulação, já nos céus, a atribuírem a sua custosa e recompensadora vitória ao seu Deus e ao Cordeiro.[25]

Não me estenderei muito mais, pois não quero entrar Apocalipse adentro, neste momento. Isto terá que ser feito nos próximos volumes. Eu apenas quero frisar que as pessoas apresentadas por João a viverem, sofrerem e morrerem para, só então, reinarem eternamente com Cristo, são só a metade da solução dada ao problema contido na profecia de Daniel 7. Sempre houve, certamente há e sempre haverá santos vivos sobre a Terra, a maioria dos quais, como já dissemos, vivem vidas discretas ou anônimas, mas que abrem o interior de seus seres, solicitamente, à santificante influência graciosa dos Céus e, assim, instilam, quietamente, o Espírito de Cristo no gesto, na ação, na palavra, no símbolo ou no milagre. Esta é a outra metade! Esta outra, assim como a primeira, jamais desprezaria a comunhão e o vínculo próprios com a Igreja que Nosso Senhor mesmo disse que edificaria. A vida daqueles cristãos da Grande Tribulação foi perdida na Terra e ganha no Céu por causa desta comunhão e deste vínculo.

Ninguém ignora a escala de poder que existe na esfera humana. Esta escala de poder pode ser muito desigual e, por isto mesmo, ser comparada com a altura da Terra ao Céu. O poder humano pode ser quase nulo, no mais humilde escravo, e pode ser quase imensurável em um presidente, ditador, rei, ou em pessoas ocupando outros cargos ou posições bem mais discretos. Até 313 d.C., o máximo desta escala, nos vastos domínios romanos, era o imperador que, do céu de seu poder, impunha o culto de deidades pagãs e o culto de si mesmo e, deste modo, difundia por todo o império aquela sujidade espiritual que São João nos revelou ser o dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e satanás. Em algum momento durante aquele ano, aquela sujidade foi expulsa do céu em um poderoso contra-ataque celeste sobre o qual teremos muito mais o que dizer no próximo volume. Por ora, só desejo ressaltar que os cristãos vivos na Terra, realmente, tomaram posse do reino mais poderoso do mundo à época, por meio daquela conversão imperial que, deste modo indireto, conferia, também aos santos, esta posse.

A vida dos santos, esta mesma vida biológica que todos experimentamos, acaba. Mas, de modo algum, eles deixam de existir e, de fato, continuam a existir em condições cuja descrição revelatória é a da beatitude eterna. É este o ponto de vista de São João ao esclarecer o significado da posse eterna do reino pelos santos, que encontramos na profecia de Daniel. A posse é, de fato, perene, mas a condição de existência muda. Mas, muda de um jeito que, quando conhecido, realça ainda mais a verdade da afirmação de Daniel, segundo a qual os santos possuiriam o reino para sempre, uma vez que, por um lado, a santidade que tem um começo e um desenvolvimento precários e pode vir a um fim prematuro, enquanto contingenciada pelo tempo, acaba por ser confirmada, perenizada e retribuída ao fim da vida biológica e apenas após este fim - este é o ponto crucial. Por outro lado, a posse perene só pode acontecer lá onde a existência eterna aguarda a chegada daqueles que adquiriram a vida perene e para onde Nosso Senhor apontava quando dizia que o Seu Reino não era deste mundo mas que sobre este governava. Foi exatamente isto o que o profeta São João afirmou na abertura[26] de seu livro mais famoso, curiosamente, em um tempo em que ser cristão era imantar-se de perseguição e de um alto risco de morte e em que ele próprio estava detido na Ilha de Patmos.

5. Tempo, Tempos, a Metade de Um Tempo e Outras Estações

O verso 25 do capítulo 7, nos diz que Tito, o chifre pequeno, teria os santos em suas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Contando cada tempo por um ano, teríamos 3 anos e meio ou 42 meses ou, ainda, 1260 dias. Este jeito de contar os tempos foi, não apenas sugerido, mas revelado por São João no Apocalipse 11 e 12.

Não é menos do que impressionante o fato de que este período de três anos e meio, em que o chifre pequeno agiria contra os santos ou os teria entregues em suas mãos, se preste a uma surpreendente confirmação histórica.

Nero dá a ordem para esmagar a revolta judaica, em 66 d.C., a Vespasiano e este ordena, nesta mesma oportunidade, a seu filho, Tito, que parta da Acaia, na Grécia, para Alexandria, no Egito, e daí leve consigo a Décima e a Quinta Legiões para a Judeia.[27] Foi com este encargo que Nero passou às mãos de Vespasiano e, principalmente, de seu filho, Tito, o chifre pequeno, toda a região da Judeia, e em que se localizavam os santos mencionados na profecia de Daniel 7, e que eles deveriam pacificar mediante manobras de guerra.

Vespasiano chega em Israel, na cidade portuária de Ptolemais, em abril de 67 e Tito, seu filho, chega logo após neste mesmo ano, ambos acompanhados pelas poderosas legiões de batalha que, finalmente, derrotariam os revoltosos que, até então, haviam superado todas as forças enviadas para esmagá-los.[28] Em meio ao ano 69, Vespasiano é proclamado imperador, após o que segue para Roma a fim de assumir o império, deixando a Tito o encargo de concluir, vitoriosamente, a guerra contra os judeus[29], o que significava sitiar Jerusalém, acabar com a revolta e reassumir o controle da cidade, como se eles próprios houvessem lido a profecia do chifre pequeno e estivessem tentando realizá-la.

Em Setembro de 70 d.C., os conflitos militares maiores já acabaram, a cidade estava tomada e o templo incendiado e arrasado. Nos meses que se seguiram à tomada da cidade, muitas providências, supostamente deveriam ser tomadas. O posicionamento de tropas ou forças para garantir a ordem, a nomeação de novos líderes locais favoráveis aos romanos, o julgamento de prisioneiros, a manutenção da presença militar, mas, principalmente, a demolição completa das paredes do, antes, glorioso templo de Jerusalém. De fato, Tito parte, sem suas tropas, para Roma no verão do ano 71[29] dando, deste modo, tempo suficiente, embora apertado, à acomodação dos três tempos e meio.

1024px Spoils from Jerusalem   Arch of Titus   Rome 2008
Figura 4: O relevo no Arco de Tito em Roma, uma "fotografia em pedra" do triunfo de 71 d.C. Aqui, soldados romanos carregam os tesouros saqueados do Templo de Jerusalém, com a Menorá de sete braços em destaque, confirmando visualmente o evento central da ação do "chifre pequeno" e a vitória imposta aos "santos".[30]

Sem Domínio, Mas Vivos

No Império Romano, os povos conquistados mantinham na maior parte a sua identidade de povo, embora fossem subjugados por um dominador estrangeiro para quem pagavam tributos e deviam obediência. Esta distinção entre povos era mantida também como um emblema de vitória e superioridade sobre o povo conquistado.

Há uma previsão, no verso 11, de que os três primeiros animais não terminariam queimados como o quarto, mas que, ao contrário, continuariam vivos por um tempo curtíssimo. Isto, de fato, aconteceu com os outros três animais (leão, urso e leopardo), pelo simples fato de estarem livres do domínio do 4º animal, (devido a este último estar, agora, morto).

Três tempos e meio são, como vimos, três anos e meio. Assim, aquele interstício de um tempo e uma estação equivalem a um ano e três meses, o que historicamente é, de fato, um nada. Veja o leitor que São João encarou, em seu tempo, este mesmo problema da sobrevida dos outros três animais e o expôs no símbolo da besta que surgiu do mar, sobre a qual falaremos muito mais no próximo volume.

Como poderiam ter sobrevivido aqueles três impérios anteriores, deve ter sido a pergunta do profeta que era contemporâneo do império representado pelo quarto animal de Daniel. Para Daniel, este símbolo não tinha esta carga problemática pelo simples fato de que o seu cumprimento ainda estava muito tempo a sua frente.

Mas, São João, vivendo no tempo dos romanos, sabia que os três impérios já não eram impérios propriamente ditos. A sua solução foi propor o símbolo da primeira besta do capítulo 13 do Apocalipse em que os corpos dos antigos impérios sobreviviam enxertados no corpo de uma quimera! A solução era perfeita, de fato, pois ele a via na própria realidade judaica dentro da qual vivia: um povo vassalo que só mantinha a sua identidade na medida em que se submetia a ser parte do organismo muito maior que os engolira.

Também, após a queda do Império Romano, em 476 d.C., os territórios dos impérios mais antigos (leão, leopardo e urso) nunca mais se reestabeleceram. Fossem quais fossem as forças dominadoras desta época em diante, elas nada tinham a ver com aquelas que haviam sido conquistadas no evento de queda de cada um daqueles impérios antigos.

6. Conclusão

Do ponto em que estamos na História, os eventos apontados pela profecia dos dez chifres estão bem recuados no passado. São aproximadamente dois mil anos desde o décimo chifre e aproximadamente 1700 anos desde que os santos começaram a tomar posse do reino. De 313 até 380 d.C., o império é cristianizado desde o mais pobre súdito cristão até o seu mais alto representante oficial, o imperador em pessoa.

Em 476 d.C., cai o Império Romano do Ocidente, depois que a sede do império foi invadida e dominada por bárbaros germânicos. É óbvio que este evento está referido na previsão de que o corpo do quarto animal seria desfeito e entregue para ser queimado, verso 11.

Desde o nosso ponto avançado no tempo, sabemos o que se passou naquele período através de inúmeros documentos históricos, alguns dos quais foram indicados neste livro. Embora, a profecia do capítulo 7 não mencione a palavra "templo", hoje sabemos de que modo Tito insultou ao Altíssimo e o que significou a sua arrogância; sabemos quando iniciou e quando terminou a guerra que ele fez contra os santos, como ele tentou alterar os tempos e a lei dos judeus. Sabemos que a destruição de Jerusalém e do Templo era a máxima mágoa que um coração judeu poderia sofrer.

Todos estes esclarecimentos derivam do entendimento simples, direto e luminoso de que os dez chifres são os dez primeiros imperadores romanos. É esta suposição inicial que gera todo o tesouro cintilante de conexões ponto-a-ponto entre os elementos da profecia e fatos históricos conhecidos. Tão mais cintilante quando se percebe que estes eventos históricos, longe de serem pontuais, são uma sequência longuíssima de fatos, cronologicamente ordenados de acordo com a cronologia indicada na profecia, e que começaram em 27 a.C. e só terminam com a queima do corpo do animal em 476 d.C., perfazendo um total de mais de 500 anos.

O leitor já deve saber que este autor foi capaz de dar uma prova matemática para a premissa deste livro, a saber, que os 10 chifres da profecia de Daniel são os 10 imperadores romanos. A prova acabou ficando muito longa e, por esta razão, recebeu o seu próprio espaço em um livro separado sob o título "A Prova de que os 10 Chifres da Profecia de Daniel São os Primeiros 10 Imperadores Romanos". Deste modo, os vários detalhes propriamente matemáticos puderam ser bastante desenvolvidos.

A Crítica da Crítica

Mas, por mais que a abordagem matemática seja a mais preferida por este autor, é preciso que se diga que há problemas importantíssimos e complicados, relacionados, por exemplo, à autenticidade ou validade dos documentos em que os símbolos chegam até nós e que dependem, totalmente, da boa e velha capacidade intelectual, equipada com sinceridade radical, nutrida com dados e informações pertinentes de todos os tipos e áreas de saber, confiante nAquele que propôs os símbolos, antes de mais nada, e paciente, pois a pesquisa paralela, como a histórica ou a arqueológica, por exemplo, que não acabaram de fazer as suas contribuições e, em verdade, estão a passar por revoluções - não apenas as fabricadas pela solicitíssima, adiantada e, no fim das contas, esterilizante crítica metodística, baseada, como está, em pressupostos de higiene teorética, mas, principalmente nos avanços de todas as áreas do conhecimento sobre a realidade concreta.

A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus. O que não é palavra de Deus pode transmitir fé ou dúvida. Por acaso, acharei fé na terra? Ainda não se passaram dois mil anos depois desta pergunta e é possível encontrar ataques formidáveis à fé e que se destacam pela habilidade de camuflagem e infiltração. O Corpo de Cristo é, de certo modo, como o seu sudário: misteriosamente bem conservado, embora em pequena medida tenha sofrido, ao longo dos séculos, costuras e emendas que lhe enxertaram tecidos estranhos, não marcados pela Divina Imagem, e que, às vezes, causam perplexidade, dúvida e frustração que são dirigidas ao sudário inteiro.

Quisera eu poder iniciar um contra-ataque ainda que tardio e, provavelmente, ineficaz a certas linhagens golianescas de eruditos através das quais o dragão tem servido o seu estranho fogo aveludado, e aquecido a dúvida e a descrença no coração de muitas das pessoas que se achegam à Palavra de Deus. Este cálido calor infernal pode ser docemente transformado em ato ao se ler as, sem sombra de dúvida, sofisticadas opiniões encontradas, por exemplo, nas, de outro modo, estimulantes páginas de introdução aos livros proféticos da Bíblia de Jerusalém em formato menor, notadamente, na página 1348 da 5ª impressão da Nova Edição, Revista, em português. Ali, é possível encontrar a opinião, segundo a qual, "O livro de Daniel já não representa a verdadeira corrente profética…​", entre outros disparates mais graves, colocando a Daniel, de novo, na cova dos leões.

Aqui, é preciso discernimento, paciência e perseverança. Quando uso a figura de linguagem do "contra-ataque", me refiro ao aprontamento intelectual e espiritual reais, que está de prontidão para distinguir joio e trigo sem querer arrancar antecipadamente o joio. Creio não precisar explicar a nenhum cristão o modelo dado na Vida Revelada de Nosso Senhor, na qual vemos um traidor conhecido desempenhar o seu papel até os últimos momentos. Isto significa: deixem que falem estes inimigos camuflados que cuidam não ter sua presença, dentro de batinas ou em cátedras, reparada por mais ninguém. É preciso discernimento, paciência e perseverança até que se completem os dias da soltura, do alistamento magoguiano, e da fúria maligna que se extingue em fogo.

Se há verdade neste presente trabalho e no pequeno livro "A Prova Matemática de que os Dez Chifres da Profecia de Daniel São os Dez Primeiros Imperadores Romanos", publicado antes deste, então, o livro de Daniel representa sim a verdadeira corrente profética bíblica. Vou listar, abaixo, apenas previsões da profecia do capítulo 7 cuja realização pode ser imediatamente traduzida em fatos históricos arquiconhecidos:

  1. Daniel previu corretissimamente, a ocorrência dos 10 primeiros imperadores.

  2. Previu que Tito seria um chifre pequeno quando guerreasse contra os santos e, de fato, ele era apenas um general a serviço de seu pai e do imperador Nero.

  3. Previu que Tito combateria os santos e os venceria, o que se concretizou com a invasão da Judeia, com o sítio de Jerusalém, sua destruição e a destruição e incêndio do templo.

  4. Previu, com impressionante exatidão, o período de 1260 dias, ou 3 anos e meio, no símbolo dos 3 tempos e meio, em que os santos seriam entregues nas mãos do chifre pequeno, o que, de fato, se constata no tempo que transcorre entre abril de 67 d.C. a setembro de 70 d.C., ínterim em que Vespasiano e Tito invadem a Judeia, sitiam Jerusalém até a sua queda, queimam o santuário para, logo após, arrasarem as suas paredes e, neste processo, oprimem e matam boa parcela do povo da cidade, no meio do qual viviam também os santos mencionados na profecia.

  5. Previu que Tito veria três dos primeiros chifres serem arrancados, o que aconteceu, de fato, com Galba, Otão e Vitélio, que sem ter tido o tempo de arraigarem-se no poder, foram, de fato, extirpados pelas raízes, cedendo o solo fofo do império às raízes da dinastia Vespasiana, cujo primeiro fruto, foi ninguém menos do que o próprio Tito.

  6. Previu que o animal seria julgado e condenado, o que começou a concretizar-se com a conversão do imperador, a cristianização do império e a purificação completa do mais alto cargo imperial daquela sujidade espiritual que se difundia da antiquíssima, oficial e, a partir daí, derrotada religião pagã do império.

  7. Previu que os santos possuiriam o reino, o que de fato aconteceu, pois que, a partir de agora, aquele mais alto e importante cargo seria empossado apenas por homens que na adesão oficial, na forma, no ofício e na devoção pertenceriam apenas àquela religião cujos santos haviam sido perseguidos e mortos, por cerca de 300 anos, mas que, agora, reinam com Cristo e com os vivos que, por esta exata razão, detêm fisicamente, do lado de cá da realidade, a posse do império mais poderoso do mundo.

  8. Previu que o animal seria morto e que o seu corpo seria desfeito, o que veio a acontecer com a dissolução do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., quando o bárbaro Odoacro toma o território onde se encontrava a antiga sede do império que fora a fonte e o símbolo de perseguição e morte dos santos da profecia.

Todos estes fatos são completa e detalhadamente expostos e tratados nos capítulos deste livro.

Aqueles eruditos estavam cheios de fervor pela glória de sua ciência filológica e, por esta razão, se extraviaram da verdade que salta singelamente aos olhos de quem não está nem aí para outra glória que não seja a de Nosso Senhor e Salvador e que é, de fato, e não apenas por auto atribuição figurativa, o Filho do Homem, veja o Apêndice Filho do Homem.

Aqueles eruditos erraram tão desastradamente que concluem que a composição do livro de Daniel deve ter acontecido por volta do ano 167 a.C., e não se deram conta de que o primeiro imperador romano só vai surgir por volta de 140 anos ou mais depois, fato que, aliás, estava à disposição de sua erudição. Ora, se uma profecia é dada com 140 anos de antecedência e acerta em cada mínimo detalhe previsto; detalhes, estes, que se desenrolam em um período de mais de 500 anos, será mesmo que a conclusão a ser extraída é a de que o livro deste profeta "já não representa a verdadeira corrente profética"?

A opinião deste autor é, ao contrário, a seguinte: a profecia de Daniel é o grosso calibre no formidável arsenal da profecia bíblica!

Por todo o exposto, será preciso que pessoas com instrução mais vasta e variada, sinceras e não comprometidas com a condução de revoluções internas, delongadas como se Gog e Magog tivessem todo o tempo do mundo, mais do que com o amor para com a Palavra de Deus e para com o Espírito da Verdade, que dela se difunde, se debrucem, mais uma vez, sobre o depósito colossal de dados e informações pertinentes, acumulados até aqui, sem a fatal idolatria dos instrumentos científicos de análise, por causa da qual erraram aqueles estudiosos. É preciso tentar corrigir a expressão errônea da, assim entendida por muitos, opinião oficial da Igreja, ou daquilo que se faça passar por ela, sobre a profecia de Daniel, pois não é possível que o ensino da Igreja de Cristo seja, ao mesmo tempo, a pedra de tropeço que faça cair para longe a muitos dos que, com confiança, dela se aproximem.

Resumo Cronológico

Tabela 4. Os principais eventos de Daniel 7 em ordem cronológica
Ano ou Período Evento Símbolo Versos

626 a.C. a 539 a.C.

Império Babilônio.

Leão com asas de águia

4

539 a.C. a 330 a.C.

Império Medo-Persa.

Urso

5

330 a.C.

Império Grego-helênico-helenístico.

Leopardo com quatro asas e quatro cabeças

6

27 a.C. até 476 d.C.

Império Romano.

Animal monstruoso

7, 11, 19, 23

27 a.C. a 14 d.C.

Imperador Augusto.

1º chifre

7

14 d.C. a 37 d.C.

Imperador Tibério.

2º chifre

7

37 d.C. a 41 d.C.

Imperador Calígula.

3º chifre

7

41 d.C. a 54 d.C.

Imperador Cláudio.

4º chifre

7

54 d.C. a 68 d.C.

Imperador Nero.

5º chifre

7

Poucos anos antes de 66 d.C.

Tito torna-se general antes de 66 pois neste ano já está à frente da XV Legião. Galba torna-se imperador apenas em 68. Se Tito não houvesse se tornado general antes de Galba ser destronado, ele não cumpriria a condição de o chifre pequeno "ver" três chifres serem desarraigados.

Chifre Pequeno surge entre os demais

8, 24

66 d.C.

Nero está à frente do império e dá a ordem a Vespasiano para acabar com a revolta judaica.

devorar a terra toda (a terra de Israel), pisá-la e esmagá-la

7, 23

67 d.C. a 70 d.C.

Vespasiano e Tito aportam em Ptolemais, atual Acre, em Israel, em 67, e Tito completa o cerco e a destruição da cidade e do santuário no ano 70. Este período acomoda os 3 tempos e meio.

Arrogância do chifre pequeno, opressão e violência contra os santos, blasfêmias.

11, 20, 21, 24, 25

68 d.C. a 69 d.C.

Imperador Galba.
1º arrancado diante do chifre pequeno.

6º chifre

7

69 d.C.

Imperador Otão.
2º arrancado diante do chifre pequeno.

7º chifre

7

69 d.C.

Imperador Vitélio.
3º arrancado diante do chifre pequeno.

8º chifre

7

70 d.C.

Término do cerco e a destruição de Jerusalém e do Templo. Este fato, como o entendiam os judeus daquele tempo e provavelmente também os romanos, tinha o potencial de alterar a previsão profética segundo a qual os santos (os judeus) entrariam na posse dos reinos do mundo inteiro. A destruição da cidade sagrada e do sítio mais sagrado da cidade seriam o golpe final e o sinal da superioridade dos romanos e suas deidades sobre os judeus e o seu Deus. Este fato pode ter sido encarado ou entendido, entre os romanos, como a tentativa vitoriosa de alterar os tempos e a lei.

Tentará alterar os tempos e a lei.

25

69 d.C. a 79 d.C.

Imperador Vespasiano.

9º chifre

7

79 d.C. até 81 d.C.

Imperador Tito.
Em 79 d.C., o chifre pequeno torna-se maior, pois Tito torna-se um imperador. O chifre que começara pequeno tornou-se maior que os outros em suas atitudes contra Deus e Seu povo.

10º chifre

8, 11, 20

Entre 70 d.C. e 313 d.C.

Após a draconiana e iníqua destruição do santuário, no ano 70, correu a sessão de julgamento durante a qual um Filho de Homem se aproxima do Ancião de Dias, julga o animal monstruoso e sentencia a favor dos santos. O resultado deste julgamento celeste, na História, foi a conversão não só do imperador mas do império inteiro ao cristianismo e o fim das perseguições à Igreja.

Ancião de Dias, Tronos, Julgamento, Filho de Homem, julgamento favorável aos santos, o animal é destituído de seu domínio, os santos tomam posse do reino.

9, 10, 13, 14, 26

70 d.C.

Após a destruição de Jerusalém, Nosso Senhor já reina, assentado sobre o trono do Altíssimo e aguarda que Seus inimigos sejam-Lhe submetidos por completo, o que ocorre em 476 d.C. Não apenas os poderes constituídos no estrato espiritual da realidade, mas os reinos do mundo inteiro Lhe estão submetidos. Este ponto ficará claro como cristal a partir do 2º volume desta série, em que as explicações de São João revelarão os detalhes históricos que não foram explicitamente apreendidos na profecia de Daniel.

O Filho de Homem reina eternamente. Os santos dominam sobre a terra.

14, 22, 27

Entre 380 d.C. e 476 d.C.

Enquanto o cristianismo florescia e vicejava, o império se enfraquecia e definhava. Este processo de espelhamento inverso continuou até o fim do processo de derrocada do império, em 476 d.C., ano em que é definitivamente invadido por bárbaros. Antes disto, a religião do Cristo torna-se a religião oficial do Império.

o animal teve o corpo queimado e destruído até o seu fim.

9, 10, 13, 14

476 d.C.

A queda do Império Romano é o momento em que o 4º animal é morto. A partir daí, passa-se ao curtíssimo período de uma estação e um tempo. Os outros impérios, representados pelos outros três animais (leão, urso e leopardo) nunca mais voltam a viver.

Prolongamento de vida, mas sem autoridade durante uma estação e um tempo.

11, 12

Apêndice A: Filho do Homem

A expressão "filho do homem" refere-se a uma pessoa nascida de uma mulher, filho de um homem e de uma mulher.

Na Bíblia, ela é utilizada para distinguir homens comuns de seres celestes, exceto no livro de Daniel em que ela foi utilizada num contexto inundado pela distinção e pela dignidade de um Ser Altíssimo, que viria a nascer de uma mulher - fato singularíssimo que, aparentemente, o próprio Daniel ignorou - e que, por esta razão, foi representado na visão, dada ao profeta, como um Filho de Homem.

Sabemos quem é este Filho de Homem, porque Nosso Senhor identificou-se como o tal.

Aparentemente, o assunto relacionado a este Filho de Homem, o seu papel na sociedade judaica e o seu destino estava em voga naquela época. Só nos evangelhos e nos Atos, a expressão ocorre 83 vezes, seja utilizada por Cristo mesmo, seja pelos apóstolos, seja por outras pessoas.

Embora Daniel o tenha visto aproximando-se do Ancião de Dias, pode ter havido dúvidas quanto a de onde ele vinha antes desta aproximação - da Terra, de outro lugar no Céu? -, ou sua forma de existência - em corpo físico, como os humanos? -, e para onde iria e o que faria após o encontro com o Ancião? Esta última parte poderia ter sido mais conhecida, pois a profecia em que Daniel o apresenta, continua com a grandiosa cena do animal monstruoso e do seu julgamento. No entanto, São João relata que, em certo momento, pessoas de uma multidão a qual Jesus falava sobre o destino do Filho do Homem, o interpelou com a seguinte questão "A Lei nos ensina que o Cristo permanecerá para sempre; como podes dizer: ‘O Filho do homem precisa ser levantado’? Quem é esse ‘Filho do homem’?"

Hoje em dia, já há 20 séculos de convicção e clareza quanto a Nosso Senhor ter sido o Filho de Homem. Isto nos ajuda a datar o tempo da realização da profecia de Daniel 7 e a descobrir quem são os dez chifres daquela profecia. Daniel vê o Filho de Homem a se aproximar do Ancião e, hoje sabemos que isto aconteceu depois de Ele ter sido morto. Claro, antes de nascer de Maria, Ele ainda não era um filho de homem, embora sempre tenha sido a Divindade cuja plenitude habitou corporalmente em Jesus de Nazaré, como explica São Paulo.

Somente após ter se tornado um filho de homem e de ter morrido como um filho de homem foi que ele ascendeu ao Céu e compareceu perante Aquele Ancião e continuou por lá nas tarefas daquele julgamento que se seguiu e onde continua até que volte outra vez aqui.

A seguir está uma lista não exaustiva, em ordem cronológica, do que os evangelhos e os Atos falam sobre o Filho de Homem e o encaixe que isto tem com a visão de Daniel sobre Ele.

Acontecimentos e Informações em Ordem Cronológica em Alguns Livros do Novo Testamento

Evangelho de São Mateus e nos Atos

  1. …​ perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?” […​] “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas”. “E vocês?”, perguntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja […​] Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”. Mat. 16:13-19

    Dois mil anos depois, dizer que o Filho do Homem é o Messias, pode parecer supérfluo ou lugar comum, mas, na época de Cristo, tempo em que as antigas previsões estavam a se concretizar perante os olhos contemporâneos, nem todos entendiam o que estavam a enxergar: haviam dúvidas! O Filho do Homem que, um pouco mais tarde estaria na presença do Ancião de Dias, indicou a Pedro como pedra inicial da Igreja que Ele fundaria. Ele disse que a fundaria, fundou-a, ela continuou por mais de dois mil anos e, hoje - é inegável -, a vemos por todos os lados.

  2. “Estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para que zombem dele, o açoitem e o crucifiquem. No terceiro dia ele ressuscitará!” …​ o Filho do Homem …​veio dar a sua vida em resgate de muitos. Mat. 20:18,28

    Hoje em dia, pode parecer natural que, para ir para o Céu, comparecer perante o Ancião de Dias, tenha sido preciso, mesmo a Nosso Senhor, antes, morrer. Mas para os discípulos àquela época, antes de entenderem o objetivo e o destino do Filho de Homem, ver o seu Mestre morrer era impensável.

  3. Pois assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra. Mat. 12:40

    A morte de Cristo não é diretamente mencionada na visão de Daniel. Mas, entende-se que o Ser Humano, Jesus de Nazaré, deveria morrer antes de encontrar-se, no Céu, em seu corpo físico, com o Ancião de Dias.

  4. …​ Quando forem perseguidos num lugar, fujam para outro. Eu lhes garanto que vocês não terão percorrido todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem. Mat. 10:23

    Alusão à aproximação do Filho de Homem ao Ancião de Dias. O escape da perseguição que irrompeu contra os primeiros cristãos, imediatamente após a morte de Nosso Senhor, e que foi realizada pelos próprios judeus, deve mesmo ter tomado a forma da fuga de uma cidade para outra. O encontro com o Ancião de Dias aconteceria, naturalmente, tão logo Nosso Senhor ascendesse ao Céu. As primeiras perseguições, no entanto, duraram anos.

  5. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus e disse: “Vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direita de Deus”. Atos 7:55, 56

    A cena de encontro descrita em Daniel 7 é exatamente o que se relata que Estêvão viu no momento de sua morte em 34 d.C.

  6. Garanto-lhes que alguns dos que aqui se acham não experimentarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo em seu Reino” Mat. 16:28

    A garantia dada por Cristo foi exatamente o que aconteceu a Estêvão, que momentos antes da morte vê o Filho do Homem, após aquela lendária aproximação, junto e à direita do Ancião.

  7. O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz tropeçar e todos os que praticam o mal. Mat. 13:41

    O Reino de Deus é maior que os reinos do mundo. Em específico, o Reino de Deus era maior do que o reino da Judeia, seus príncipes, chefes e sacerdotes, os quais rejeitaram a Cristo. Estes foram retirados do Reino. Os cristãos - herdeiros dos Bens Espirituais anteriormente possuídos pelos judeus - vieram a estar presentes em todas as partes do mundo. Não é possível negar que a sede física do Reino passou à capital do império que dominava a Judeia na época de Cristo.

  8. Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. Mat 19:28

    Os apóstolos iriam ocupar 12 tronos quando o Filho de Homem ocupasse o Seu. Isto foi retratado no Apocalipse 4 também, em que São João vê 24 tronos ao redor do trono do Alguém. Os outros 12 são os dos 12 patriarcas. Assim, estes 24 tronos só seriam completamente ocupados após a morte do último apóstolo, o que só aconteceu na morte do próprio apóstolo que teve esta visão: São João.

  9. Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um de acordo com o que tenha feito. Mat. 16:27

    O Advento de Cristo é ostensivo e perante os olhos de todos. O Advento inaugurou o Reino de Cristo que, após a sua Morte e Ressurreição julgou Israel e as nações circunvizinhas e influentes na Terra Santa daquela época. A visão de Daniel sobre a aproximação do Filho de Homem ao Ancião de Dias é a origem desta menção de Nosso Senhor.

  10. Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem…​ Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória…​ Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem…​ e eles nada perceberam, até que veio o Dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem…​ Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam. Mat. 24:27,30,37,39,44

    Indicações claríssimas ao Segundo Advento.

Evangelho de São Marcos

  1. …​ era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse. Mar. 8:31

    À época, a morte do Filho de Homem pode ter sido uma novidade inesperada. Todo judeu esperava que o Messias os livrasse do domínio romano e que os colocasse na posse dos reinos do mundo. Ao contrário desta opinião dominante, o Filho do Homem deveria passar pela morte, como os demais filhos de homens, antes de encontrar-se com o Ancião Divino.

  2. Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. Mar. 9:9

    Para encontrar-se com o Ancião Divino é preciso estar vivo. Daí, a ressurreição dos mortos em que o espírito anima novamente o corpo e ascende até o trono divino.

  3. …​é necessário que o Filho do homem sofra muito e seja rejeitado com desprezo?…​ O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, e três dias depois ele ressuscitará…​ Filho do homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios…​ Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Mar. 9:12,31; 10:33; 14:41

    A necessidade do sofrimento e morte do Filho de Homem é um ponto destacado no ensino de Cristo. O encontro com o Ancião de Dias, no céu, dependia da passagem pela morte, mas - e este é o ponto importante -, de modo a ter o direito a reassumir a posse do seu corpo.

  4. Então se verá o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Mar. 13:26

    O Advento de Cristo é ostensivo e perante os olhos de todos. A visão de Daniel fora dada uns 500 anos antes de Cristo e a sua previsão era sobremodo avançada: a visita de um Filho de Homem tão distinguido dos demais a ponto de ser capaz de aproximar-se do trono divino.

  5. vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu. Mar. 14:62

    Estêvão teve esta visão! Todos os que morrem unidos a Cristo têm esta visão. Qualquer pessoa não morta pode não apenas antever o mesmo, mas também estar em contato com Ele lá onde o Seu Corpo descansa envolto em régia reverência. "Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos".

Evangelho de São Lucas

  1. É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas e seja rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, seja morto e ressuscite no terceiro dia…​ O Filho do homem será traído e entregue nas mãos dos homens…​ tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá. Luc. 9:22,44; 18:31

    O sofrimento e morte do Filho de Homem pelas mãos da hierarquia religiosa judaica era o sinal máximo da rejeição do Messias Enviado ao qual esta mesma hierarquia deveria aguardar, receber e se submeter. Quinhentos anos antes, aproximadamente, a profecia de Daniel já indicava que este destino infeliz do judaísmo estava selado.

  2. Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do homem, mas não verão. Luc. 17:22

    O anseio agridoce de todo o coração cristão que já viveu após a morte da última testemunha ocular é vê-lO em seu Corpo Glorioso.

  3. Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos.  Luc. 9:26

    O 1º e o 2º adventos estão "fundidos mas não confundidos" nas palavras e na vida do Filho de Homem, que durante a sua primeira vinda já anunciava a segunda vinda com seus anjos.

  4. Pois o Filho do homem no seu dia será como o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu…​ se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória…​ Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo o que está para acontecer, e estar em pé diante do Filho do homem”. Luc. 12:24, e 21:27,36

    A segunda vinda é evento que não se pode ignorar e do qual não se pode fugir.

  5. Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do homem…​ Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado…​ Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam. …​ quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra? Luc. 17:26,30; 12:40; 18:8

    A Fé, nos dias atuais, é maré vazante. A sua diminuição generalizada diminui também o conhecimento da 2ª vinda.

Evangelho de São João

  1. Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do homem…​ Que acontecerá se vocês virem o Filho do homem subir para onde estava antes? Joa. 3:13 e 6:62

    O Ser representado como Filho de Homem, por Daniel, sempre existiu e é a Divindade que habita corporalmente em Jesus de Nazaré. Ao ascender, ultrapassou os limitados domínios terrestres para a abertura infinita dos céus onde sempre esteve.

  2. Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado…​ Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que Eu Sou, e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o Pai me ensinou. Joa. 3:14 e 8:28

    Indicação inequívoca da crucificação, após a qual o Filho de Homem se encontraria com o Ancião, com o qual já havia aprendido antes de sua vida terrestre.

  3. Jesus respondeu: “Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem. Joa. 12:23

    A terminologia usada por Jesus não é por acaso. A profecia de Daniel previra não só a glorificação do Filho do Homem mas também a duração infinda de seu reino.

  4. Vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem. Joa. 1:51

    O Filho de Homem é a ligação que importa haver entre o Céu e a Terra.

  5. E deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem. Joa. 5:27

    O juízo do animal monstruoso, que representa o Império, leva à conversão do império ao cristianismo e à possessão deste império pelos mencionados santos da profecia de Daniel.

7. Posfácio

Gog e Magog

A profecia cujo cumprimento ainda esteja no futuro ou que ainda esteja a presentificar-se não nos deixa escolha: dela só nos cabe falar simbolicamente; quando muito, emitir algum palpite sobre o seu significado; jamais tomar como certa qualquer possibilidade de concretização.

É preciso lembrar dos judeus do tempo de Cristo! Dado o conteúdo da profecia de Daniel 7, eles estavam convencidos de que a posse dos reinos do mundo inteiro lhes seria entregue. Eu me pergunto como poderiam eles não se convencerem disto? A profecia fora dada por um de seus profetas e, claramente, nenhuma outra nação da Terra caberia como o seu objeto.

Já se passou tanto tempo e aqueles fatos já se cristalizaram tanto na realidade passada que nunca mudará, que qualquer pessoa do nosso tempo entende que a profecia de Daniel 7, sem que fosse sobre qualquer outra nação do mundo, era, de fato sobre os santos! A nação em cujo seio estavam estes santos, no momento mesmo em que esta nação deveria auferir o fruto daquela profecia maravilhosa, acaba por renegar o Filho de Homem, por não reconhecê-lo em Jesus de Nazaré. Desqualifica-se, assim, para o cumprimento da profecia, que passa a ser cumprida por um outro grupo que a nação alguma pertencia unicamente! Pergunte-se o que este outro grupo tinha em comum com o povo judeu! Isto mesmo: aqueles mesmos santos da profecia - os seguidores do Filho de Homem - estavam em seu meio. Eu tenho sempre pensado que Nosso Senhor, no fundo, é um engraçadinho!

Seja como for, Gog e Magog está acontecendo agora! O leitor precisa, por si mesmo, verificar as graves consequências disto para a vida de quem vive em nosso tempo. Há muito o que falar sobre os nossos tempos, do ponto de vista profético, mas isto, com a graça de Deus, será feito em outros volumes.

Profecia bíblica é de modo nenhum um assunto trivial ou inconsequente. A cultura atual está lotada de informações e contra-informações cuja mistura e remistura, ao longo dos séculos, não favorece mais o esclarecimento do que o embotamento.

Atualmente, qualquer indivíduo que assuma o compromisso para com a elucidação dos símbolos proféticos terá de avançar pelo terreno minado da cultura popular e erudita e tão bem preparado pelos dois belicosos e letalmente combativos reis, que se desincumbem com tanta competência, do seu encargo profético de reunir forças incontáveis para marcharem por toda a superfície da Terra contra os cidadãos - onde quer que estes estejam - da cidade que Ele ama.

A Língua Dupla de Daniel

A profecia de Daniel está embrulhada em questões que são delicadas como o papel antigo que a contém. Uma destas questões tem a ver com as duas línguas em que estão escritas as suas partes e com a linguagem que compõem as suas cópias mais antigas conhecidas.

Do conteúdo do livro, se conclui que ele foi escrito por um profeta hebreu, chamado Daniel, que viveu na corte de Nabucodonosor, o que teria acontecido por volta do século VI a.C. Mas, isto está em oposição com a ocorrência de vocábulos de origem persa e grega nos textos, que os estudiosos consideram muito mais novos, do século II a.C.

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Figura 5: Imagem de um fragmento de manuscrito contendo o livro de Daniel. Peça encontrada na caverna 4 em Qumran e nomeado de 4Q-Dana.[31]
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Figura 6: Negativo infravermelho escaneado de fragmentos de manuscrito contendo partes dos capítulos 2, 3, 5, 7 e 8 do livro de Daniel. Encontrado na caverna 4 em Qumran.[32]

Até aí, tudo bem, pois um livro tão antigo pode ter sido copiado, muitas vezes, com adaptações para a melhor leitura das pessoas de cada tempo. O problema surge de uma peculiar - para dizer o mínimo - arbitrariedade em se datar a redação do livro pelo tempo em que aqueles vocábulos foram usados pelos essênios em Qumran. Pergunto eu: por que datar o livro assim? Isto equivale a afirmar que a Estátua da Liberdade foi feita nos Estados Unidos, só porque nenhuma pessoa do nosso tempo a viu chegando em Liberty Island.

A fissura bilíngue dos documentos originais mais antigos que se conhecem para o livro de Daniel e as rachaduras vocabulares de seu antiquíssimo assoalho oceânico deram oportunidade à infiltração de ceticismo e dúvida um pouco só acima de onde a intensidade do calor do núcleo da alma os derreteria incandescentes.

É curioso que a velhice de um argumento e o prestígio renovado das pessoas que o emitiram possam exercer o seu peso contra a antiguidade do documento sob análise ou estudo. A música persa e grega do século II a.C. é realmente enfeitiçante. É tão mágica que os seus instrumentos, mesmo já desfeitos na poeira dos tempos, podem fazer até mesmo os eruditos de hoje em dia confundirem os conceitos de edição e redação. Mas, para não sermos injustos, nós devemos admitir que é perfeitamente normal que uma criança pequena, lendo pela primeira vez, um livro qualquer da Bíblia na Linguagem de Hoje, fique sob a impressão de que ela tenha sido escrita por alguém de seu tempo.

Deve ser coisa de falante de língua portuguesa, mas eu sempre me pergunto se somos só nós que gostamos de ler Camões em boas versões, que transponham termos antigos, desusados ou até irreconhecíveis para um bom português atual e sem perder a rima!

O pessoal de Qumran não deve ter sido assim! Neles encontramos dois grupos de bibliotecários essênios zelosíssimos e extremamente reverentes, mas que estavam em uma luta ferrenha devido a duas características díspares únicas. De acordo com a opinião oficial de um importante grupo de eruditos atuais, havia um grupo que era fiel ao conteúdo sagrado dos textos que eles sabiam ser mais antigos, estes eram apenas copiados sofrendo pouquíssimas alterações textuais e que não lhes alterava o sentido. Havia também um segundo grupo. Este último redigia novos textos com traços de literatura sagrada antiga. Ambos os grupos estranhamente concordavam em uma coisa: guardar tudo junto, pois afinal de contas, o sagrado e o que parece sagrado são muito parecidos.

Certas teorias devem ser tratadas com muito bom humor, pois os seus proponentes usaram todo o seu gênio científico a fim de realçar o seu conteúdo cômico.

Alguém precisa contar para os nossos estudiosos que a ocorrência dos termos gregos e persas não serve para datar a redação original, elas datam apenas uma edição - aquela feita pelos essênios. O poder das palavras gregas e persas sobre a redação é definir-lhe um limite temporal superior.


1. Daniel 7:24
2. Atos 2:35.
3. Lucas 2:1 e 3:1
4. Atos 11:28 e 18:2
5. Segui, aqui, a definição tradicional de símbolo tantas vezes exposta pelo professor Olavo de Carvalho. Esta definição pode ser encontrada, por exemplo, no primeiro parágrafo do seu artigo "Vocabulário Psicótico" e que pode ser lido em https://olavodecarvalho.org/vocabulario-psicotico/
6. Gênesis 3:15
7. Daniel 7:7
8. Daniel 7:4-7.
9. Wikipedia: Cilindro de Ciro,  https://pt.wikipedia.org/wiki/Cilindro_de_Ciro
10. Tradução do Cilindro de Ciro para o Português: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/cilindro/index.htm
11. Uma tradução do original para o Inglês pode ser lida em https://www.gutenberg.org/files/46976/46976-h/46976-h.htm. Ver, especialmente, o livro III.
12. Uma tradução do original para o Inglês pode ser lida em https://www.gutenberg.org/ebooks/674. Ver o capítulo intitulado "Alexander".
13. Ver as seguintes traduções para o inglês. Livro I: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-1.htm | Livro II: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-2.htm | Livro III: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-3.htm | Livro IV: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-4.htm | Livro V: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-5.htm | Livro VI: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-6.htm | Livro VII: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-7.htm
14. Os nomes e as datas foram extraídos da página da Wikipedia, Lista de imperadores romanos, https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_imperadores_romanos
15. Imagem: Mapa do Império Romano em 117 d.C. Atribuição: TRAJAN 117  This bitmap image was created with Windows Paint., Public domain, via Wikimedia Commons. Origem: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Roman_Empire_(117_AD).png
16. O ano 69 d.C. viu 4 imperadores subirem ao poder. Mas, diferente dos 3 primeiros, o último deles foi duradouro no cargo. Ver Wikipedia, "Ano dos quatro imperadores": https://pt.wikipedia.org/wiki/Ano_dos_quatro_imperadores#:~:text=Na%20hist%C3%B3ria%20romana%2C%20o%20ano,sucederam%2Dse%20como%20imperadores%20romanos.
17. Ver Wikipedia: Lista de imperadores romanos, https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_imperadores_romanos
18. Daniel 7:18 e 27
19. Imagem: "Sestertius Judaea Capta". © Classical Numismatic Group, Inc. (www.cngcoins.com). Imagem usada sob licença Creative Commons (CC BY-SA 2.5). Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sestertius_-Vespasiano-_Iudaea_Capta-RIC_0424.jpg
20. Fonte primária. Livro online e de fácil consulta do historiador da antiguidade, Eusébio, traduzido do Grego para o Português. Ver História Eclesiástica, Livro IV, capítulo VI: https://archive.org/details/HistoriaEclesiasticaEusebioDeCesareia
21. Mateus 2:16.
22. Apocalipse 1:17 e 18.
23. Ver o comentário de introdução ao livro do Apocalipse na Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista, página 2298
24. Daniel 7:26
25. Apocalipse 7:10.
26. Apocalipse 1:5.
27. Ver o capítulo 1, parágrafo 3 do Livro III de "A Guerra dos Judeus" do historiador Flávio Josefo: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-3.htm
28. Ver o capítulo 1, parágrafos 1, 2 e 3 do Livro III de "A Guerra dos Judeus" do historiador Flávio Josefo: https://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-3.htm
29. Ver o artigo "Titus Roman Emperor" (Tito, Imperador Romano) da Enciclopédia Britânica: https://www.britannica.com/biography/Titus
30. Imagem: "Spoils of Jerusalem on the Arch of Titus" por © José Luiz Bernardes Ribeiro, 2022. Domínio Público, via Wikimedia Commons. Website: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Spoils_from_Jerusalem_-Arch_of_Titus-_Rome_2008.jpg
31. Fonte da imagem: The Leon Levy dead sea scrolls Digital Library (Israel Antiquities Authority) (https://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-archive/image/B-362106). Tirada em Julho de 2012 pelo fotógrafo Shai Halevi. Tipo de imagem: Full Spectrum Color Image. Referência: 4Q112 – 4Q Dana, Plate 394, Frag 4 (B-362106)
32. Fonte da imagem: The Leon Levy dead sea scrolls Digital Library (Israel Antiquities Authority) (https://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-archive/image/B-362106). Tirada em Junho de 1954 pelo fotógrafo Najib Anton Albina. Tipo de imagem: Scanned Infrared Negative. Referência: 4Q112 – 4Q Dana, Plates 388, 394 (B-288436)